Lucas 4
1 Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão e foi guiado pelo mesmo Espírito, no deserto,
2 durante quarenta dias, sendo tentado pelo diabo. Nada comeu naqueles dias, ao fim dos quais teve fome.
3 Disse-lhe, então, o diabo: Se és o Filho de Deus, manda que esta pedra se transforme em pão.
4 Mas Jesus lhe respondeu: Está escrito: Não só de pão viverá o homem.
5 E, elevando-o, mostrou-lhe, num momento, todos os reinos do mundo.
6 Disse-lhe o diabo: Dar-te-ei toda esta autoridade e a glória destes reinos, porque ela me foi entregue, e a dou a quem eu quiser.
7 Portanto, se prostrado me adorares, toda será tua.
8 Mas Jesus lhe respondeu: Está escrito: Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a ele darás culto.
9 Então, o levou a Jerusalém, e o colocou sobre o pináculo do templo, e disse: Se és o Filho de Deus, atira-te daqui abaixo;
10 porque está escrito: Aos seus anjos ordenará a teu respeito que te guardem;
11 e: Eles te susterão nas suas mãos, para não tropeçares nalguma pedra.
12 Respondeu-lhe Jesus: Dito está: Não tentarás o Senhor, teu Deus.
13 Passadas que foram as tentações de toda sorte, apartou-se dele o diabo, até momento oportuno.
14 Então, Jesus, no poder do Espírito, regressou para a Galiléia, e a sua fama correu por toda a circunvizinhança.
15 E ensinava nas sinagogas, sendo glorificado por todos.
16 Indo para Nazaré, onde fora criado, entrou, num sábado, na sinagoga, segundo o seu costume, e levantou-se para ler.
17 Então, lhe deram o livro do profeta Isaías, e, abrindo o livro, achou o lugar onde estava escrito:
18 O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos,
19 e apregoar o ano aceitável do Senhor.
20 Tendo fechado o livro, devolveu-o ao assistente e sentou-se; e todos na sinagoga tinham os olhos fitos nele.
21 Então, passou Jesus a dizer-lhes: Hoje, se cumpriu a Escritura que acabais de ouvir.
22 Todos lhe davam testemunho, e se maravilhavam das palavras de graça que lhe saíam dos lábios, e perguntavam: Não é este o filho de José?
23 Disse-lhes Jesus: Sem dúvida, citar-me-eis este provérbio: Médico, cura-te a ti mesmo; tudo o que ouvimos ter-se dado em Cafarnaum, faze-o também aqui na tua terra.
24 E prosseguiu: De fato, vos afirmo que nenhum profeta é bem recebido na sua própria terra.
25 Na verdade vos digo que muitas viúvas havia em Israel no tempo de Elias, quando o céu se fechou por três anos e seis meses, reinando grande fome em toda a terra;
26 e a nenhuma delas foi Elias enviado, senão a uma viúva de Sarepta de Sidom.
27 Havia também muitos leprosos em Israel nos dias do profeta Eliseu, e nenhum deles foi purificado, senão Naamã, o siro.
28 Todos na sinagoga, ouvindo estas coisas, se encheram de ira.
29 E, levantando-se, expulsaram-no da cidade e o levaram até ao cimo do monte sobre o qual estava edificada, para, de lá, o precipitarem abaixo.
30 Jesus, porém, passando por entre eles, retirou-se.
31 E desceu a Cafarnaum, cidade da Galiléia, e os ensinava no sábado.
32 E muito se maravilhavam da sua doutrina, porque a sua palavra era com autoridade.
33 Achava-se na sinagoga um homem possesso de um espírito de demônio imundo, e bradou em alta voz:
34 Ah! Que temos nós contigo, Jesus Nazareno? Vieste para perder-nos? Bem sei quem és: o Santo de Deus!
35 Mas Jesus o repreendeu, dizendo: Cala-te e sai deste homem. O demônio, depois de o ter lançado por terra no meio de todos, saiu dele sem lhe fazer mal.
36 Todos ficaram grandemente admirados e comentavam entre si, dizendo: Que palavra é esta, pois, com autoridade e poder, ordena aos espíritos imundos, e eles saem?
37 E a sua fama corria por todos os lugares da circunvizinhança.
38 Deixando ele a sinagoga, foi para a casa de Simão. Ora, a sogra de Simão achava-se enferma, com febre muito alta; e rogaram-lhe por ela.
39 Inclinando-se ele para ela, repreendeu a febre, e esta a deixou; e logo se levantou, passando a servi-los.
40 Ao pôr-do-sol, todos os que tinham enfermos de diferentes moléstias lhos traziam; e ele os curava, impondo as mãos sobre cada um.
41 Também de muitos saíam demônios, gritando e dizendo: Tu és o Filho de Deus! Ele, porém, os repreendia para que não falassem, pois sabiam ser ele o Cristo.
42 Sendo dia, saiu e foi para um lugar deserto; as multidões o procuravam, e foram até junto dele, e instavam para que não os deixasse.
43 Ele, porém, lhes disse: É necessário que eu anuncie o evangelho do reino de Deus também às outras cidades, pois para isso é que fui enviado.
44 E pregava nas sinagogas da Judéia.
Lucas 5
1 Aconteceu que, ao apertá-lo a multidão para ouvir a palavra de Deus, estava ele junto ao lago de Genesaré;
2 e viu dois barcos junto à praia do lago; mas os pescadores, havendo desembarcado, lavavam as redes.
3 Entrando em um dos barcos, que era o de Simão, pediu-lhe que o afastasse um pouco da praia; e, assentando-se, ensinava do barco as multidões.
4 Quando acabou de falar, disse a Simão: Faze-te ao largo, e lançai as vossas redes para pescar.
5 Respondeu-lhe Simão: Mestre, havendo trabalhado toda a noite, nada apanhamos, mas sob a tua palavra lançarei as redes.
6 Isto fazendo, apanharam grande quantidade de peixes; e rompiam-se-lhes as redes.
7 Então, fizeram sinais aos companheiros do outro barco, para que fossem ajudá-los. E foram e encheram ambos os barcos, a ponto de quase irem a pique.
8 Vendo isto, Simão Pedro prostrou-se aos pés de Jesus, dizendo: Senhor, retira-te de mim, porque sou pecador.
9 Pois, à vista da pesca que fizeram, a admiração se apoderou dele e de todos os seus companheiros,
10 bem como de Tiago e João, filhos de Zebedeu, que eram seus sócios. Disse Jesus a Simão: Não temas; doravante serás pescador de homens.
11 E, arrastando eles os barcos sobre a praia, deixando tudo, o seguiram.
12 Aconteceu que, estando ele numa das cidades, veio à sua presença um homem coberto de lepra; ao ver a Jesus, prostrando-se com o rosto em terra, suplicou-lhe: Senhor, se quiseres, podes purificar-me.
13 E ele, estendendo a mão, tocou-lhe, dizendo: Quero, fica limpo! E, no mesmo instante, lhe desapareceu a lepra.
14 Ordenou-lhe Jesus que a ninguém o dissesse, mas vai, disse, mostra-te ao sacerdote e oferece, pela tua purificação, o sacrifício que Moisés determinou, para servir de testemunho ao povo.
15 Porém o que se dizia a seu respeito cada vez mais se divulgava, e grandes multidões afluíam para o ouvirem e serem curadas de suas enfermidades.
16 Ele, porém, se retirava para lugares solitários e orava.
17 Ora, aconteceu que, num daqueles dias, estava ele ensinando, e achavam-se ali assentados fariseus e mestres da Lei, vindos de todas as aldeias da Galiléia, da Judéia e de Jerusalém. E o poder do Senhor estava com ele para curar.
18 Vieram, então, uns homens trazendo em um leito um paralítico; e procuravam introduzi-lo e pô-lo diante de Jesus.
19 E, não achando por onde introduzi-lo por causa da multidão, subindo ao eirado, o desceram no leito, por entre os ladrilhos, para o meio, diante de Jesus.
20 Vendo-lhes a fé, Jesus disse ao paralítico: Homem, estão perdoados os teus pecados.
21 E os escribas e fariseus arrazoavam, dizendo: Quem é este que diz blasfêmias? Quem pode perdoar pecados, senão Deus?
22 Jesus, porém, conhecendo-lhes os pensamentos, disse-lhes: Que arrazoais em vosso coração?
23 Qual é mais fácil, dizer: Estão perdoados os teus pecados ou: Levanta-te e anda?
24 Mas, para que saibais que o Filho do Homem tem sobre a terra autoridade para perdoar pecados—disse ao paralítico: Eu te ordeno: Levanta-te, toma o teu leito e vai para casa.
25 Imediatamente, se levantou diante deles e, tomando o leito em que permanecera deitado, voltou para casa, glorificando a Deus.
26 Todos ficaram atônitos, davam glória a Deus e, possuídos de temor, diziam: Hoje, vimos prodígios.
27 Passadas estas coisas, saindo, viu um publicano, chamado Levi, assentado na coletoria, e disse-lhe: Segue-me!
28 Ele se levantou e, deixando tudo, o seguiu.
29 Então, lhe ofereceu Levi um grande banquete em sua casa; e numerosos publicanos e outros estavam com eles à mesa.
30 Os fariseus e seus escribas murmuravam contra os discípulos de Jesus, perguntando: Por que comeis e bebeis com os publicanos e pecadores?
31 Respondeu-lhes Jesus: Os sãos não precisam de médico, e sim os doentes.
32 Não vim chamar justos, e sim pecadores, ao arrependimento.
33 Disseram-lhe eles: Os discípulos de João e bem assim os dos fariseus freqüentemente jejuam e fazem orações; os teus, entretanto, comem e bebem.
34 Jesus, porém, lhes disse: Podeis fazer jejuar os convidados para o casamento, enquanto está com eles o noivo?
35 Dias virão, contudo, em que lhes será tirado o noivo; naqueles dias, sim, jejuarão.
36 Também lhes disse uma parábola: Ninguém tira um pedaço de veste nova e o põe em veste velha; pois rasgará a nova, e o remendo da nova não se ajustará à velha.
37 E ninguém põe vinho novo em odres velhos, pois o vinho novo romperá os odres; entornar-se-á o vinho, e os odres se estragarão.
38 Pelo contrário, vinho novo deve ser posto em odres novos e ambos se conservam.
39 E ninguém, tendo bebido o vinho velho, prefere o novo; porque diz: O velho é excelente.
Lucas 6
1 Aconteceu que, num sábado, passando Jesus pelas searas, os seus discípulos colhiam e comiam espigas, debulhando-as com as mãos.
2 E alguns dos fariseus lhes disseram: Por que fazeis o que não é lícito aos sábados?
3 Respondeu-lhes Jesus: Nem ao menos tendes lido o que fez Davi, quando teve fome, ele e seus companheiros?
4 Como entrou na casa de Deus, tomou, e comeu os pães da proposição, e os deu aos que com ele estavam, pães que não lhes era lícito comer, mas exclusivamente aos sacerdotes?
5 E acrescentou-lhes: O Filho do Homem é senhor do sábado.
6 Sucedeu que, em outro sábado, entrou ele na sinagoga e ensinava. Ora, achava-se ali um homem cuja mão direita estava ressequida.
7 Os escribas e os fariseus observavam-no, procurando ver se ele faria uma cura no sábado, a fim de acharem de que o acusar.
8 Mas ele, conhecendo-lhes os pensamentos, disse ao homem da mão ressequida: Levanta-te e vem para o meio; e ele, levantando-se, permaneceu de pé.
9 Então, disse Jesus a eles: Que vos parece? É lícito, no sábado, fazer o bem ou o mal? Salvar a vida ou deixá-la perecer?
10 E, fitando todos ao redor, disse ao homem: Estende a mão. Ele assim o fez, e a mão lhe foi restaurada.
11 Mas eles se encheram de furor e discutiam entre si quanto ao que fariam a Jesus.
12 Naqueles dias, retirou-se para o monte, a fim de orar, e passou a noite orando a Deus.
13 E, quando amanheceu, chamou a si os seus discípulos e escolheu doze dentre eles, aos quais deu também o nome de apóstolos:
14 Simão, a quem acrescentou o nome de Pedro, e André, seu irmão; Tiago e João; Filipe e Bartolomeu;
15 Mateus e Tomé; Tiago, filho de Alfeu, e Simão, chamado Zelote;
16 Judas, filho de Tiago, e Judas Iscariotes, que se tornou traidor.
17 E, descendo com eles, parou numa planura onde se encontravam muitos discípulos seus e grande multidão do povo, de toda a Judéia, de Jerusalém e do litoral de Tiro e de Sidom,
18 que vieram para o ouvirem e serem curados de suas enfermidades; também os atormentados por espíritos imundos eram curados.
19 E todos da multidão procuravam tocá-lo, porque dele saía poder; e curava todos.
20 Então, olhando ele para os seus discípulos, disse-lhes: Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o reino de Deus.
21 Bem-aventurados vós, os que agora tendes fome, porque sereis fartos. Bem-aventurados vós, os que agora chorais, porque haveis de rir.
22 Bem-aventurados sois quando os homens vos odiarem e quando vos expulsarem da sua companhia, vos injuriarem e rejeitarem o vosso nome como indigno, por causa do Filho do Homem.
23 Regozijai-vos naquele dia e exultai, porque grande é o vosso galardão no céu; pois dessa forma procederam seus pais com os profetas.
24 Mas ai de vós, os ricos! Porque tendes a vossa consolação.
25 Ai de vós, os que estais agora fartos! Porque vireis a ter fome. Ai de vós, os que agora rides! Porque haveis de lamentar e chorar.
26 Ai de vós, quando todos vos louvarem! Porque assim procederam seus pais com os falsos profetas.
27 Digo-vos, porém, a vós outros que me ouvis: amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam;
28 bendizei aos que vos maldizem, orai pelos que vos caluniam.
29 Ao que te bate numa face, oferece-lhe também a outra; e, ao que tirar a tua capa, deixa-o levar também a túnica;
30 dá a todo o que te pede; e, se alguém levar o que é teu, não entres em demanda.
31 Como quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles.
32 Se amais os que vos amam, qual é a vossa recompensa? Porque até os pecadores amam aos que os amam.
33 Se fizerdes o bem aos que vos fazem o bem, qual é a vossa recompensa? Até os pecadores fazem isso.
34 E, se emprestais àqueles de quem esperais receber, qual é a vossa recompensa? Também os pecadores emprestam aos pecadores, para receberem outro tanto.
35 Amai, porém, os vossos inimigos, fazei o bem e emprestai, sem esperar nenhuma paga; será grande o vosso galardão, e sereis filhos do Altíssimo. Pois ele é benigno até para com os ingratos e maus.
36 Sede misericordiosos, como também é misericordioso vosso Pai.
37 Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis perdoados;
38 dai, e dar-se-vos-á; boa medida, recalcada, sacudida, transbordante, generosamente vos darão; porque com a medida com que tiverdes medido vos medirão também.
39 Propôs-lhes também uma parábola: Pode, porventura, um cego guiar a outro cego? Não cairão ambos no barranco?
40 O discípulo não está acima do seu mestre; todo aquele, porém, que for bem instruído será como o seu mestre.
41 Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão, porém não reparas na trave que está no teu próprio?
42 Como poderás dizer a teu irmão: Deixa, irmão, que eu tire o argueiro do teu olho, não vendo tu mesmo a trave que está no teu? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho e, então, verás claramente para tirar o argueiro que está no olho de teu irmão.
43 Não há árvore boa que dê mau fruto; nem tampouco árvore má que dê bom fruto.
44 Porquanto cada árvore é conhecida pelo seu próprio fruto. Porque não se colhem figos de espinheiros, nem dos abrolhos se vindimam uvas.
45 O homem bom do bom tesouro do coração tira o bem, e o mau do mau tesouro tira o mal; porque a boca fala do que está cheio o coração.
46 Por que me chamais Senhor, Senhor, e não fazeis o que vos mando?
47 Todo aquele que vem a mim, e ouve as minhas palavras, e as pratica, eu vos mostrarei a quem é semelhante.
48 É semelhante a um homem que, edificando uma casa, cavou, abriu profunda vala e lançou o alicerce sobre a rocha; e, vindo a enchente, arrojou-se o rio contra aquela casa e não a pôde abalar, por ter sido bem construída.
49 Mas o que ouve e não pratica é semelhante a um homem que edificou uma casa sobre a terra sem alicerces, e, arrojando-se o rio contra ela, logo desabou; e aconteceu que foi grande a ruína daquela casa.
Marcos 2
1 Dias depois, entrou Jesus de novo em Cafarnaum, e logo correu que ele estava em casa.
2 Muitos afluíram para ali, tantos que nem mesmo junto à porta eles achavam lugar; e anunciava-lhes a palavra.
3 Alguns foram ter com ele, conduzindo um paralítico, levado por quatro homens.
4 E, não podendo aproximar-se dele, por causa da multidão, descobriram o eirado no ponto correspondente ao em que ele estava e, fazendo uma abertura, baixaram o leito em que jazia o doente.
5 Vendo-lhes a fé, Jesus disse ao paralítico: Filho, os teus pecados estão perdoados.
6 Mas alguns dos escribas estavam assentados ali e arrazoavam em seu coração:
7 Por que fala ele deste modo? Isto é blasfêmia! Quem pode perdoar pecados, senão um, que é Deus?
8 E Jesus, percebendo logo por seu espírito que eles assim arrazoavam, disse-lhes: Por que arrazoais sobre estas coisas em vosso coração?
9 Qual é mais fácil? Dizer ao paralítico: Estão perdoados os teus pecados, ou dizer: Levanta-te, toma o teu leito e anda?
10 Ora, para que saibais que o Filho do Homem tem sobre a terra autoridade para perdoar pecados 266 — disse ao paralítico:
11 Eu te mando: Levanta-te, toma o teu leito e vai para tua casa.
12 Então, ele se levantou e, no mesmo instante, tomando o leito, retirou-se à vista de todos, a ponto de se admirarem todos e darem glória a Deus, dizendo: Jamais vimos coisa assim!
13 De novo, saiu Jesus para junto do mar, e toda a multidão vinha ao seu encontro, e ele os ensinava.
14 Quando ia passando, viu a Levi, filho de Alfeu, sentado na coletoria e disse-lhe: Segue-me! Ele se levantou e o seguiu.
15 Achando-se Jesus à mesa na casa de Levi, estavam juntamente com ele e com seus discípulos muitos publicanos e pecadores; porque estes eram em grande número e também o seguiam.
16 Os escribas dos fariseus, vendo-o comer em companhia dos pecadores e publicanos, perguntavam aos discípulos dele: Por que come e bebe ele com os publicanos e pecadores?
17 Tendo Jesus ouvido isto, respondeu-lhes: Os sãos não precisam de médico, e sim os doentes; não vim chamar justos, e sim pecadores.
18 Ora, os discípulos de João e os fariseus estavam jejuando. Vieram alguns e lhe perguntaram: Por que motivo jejuam os discípulos de João e os dos fariseus, mas os teus discípulos não jejuam?
19 Respondeu-lhes Jesus: Podem, porventura, jejuar os convidados para o casamento, enquanto o noivo está com eles? Durante o tempo em que estiver presente o noivo, não podem jejuar.
20 Dias virão, contudo, em que lhes será tirado o noivo; e, nesse tempo, jejuarão.
21 Ninguém costura remendo de pano novo em veste velha; porque o remendo novo tira parte da veste velha, e fica maior a rotura.
22 Ninguém põe vinho novo em odres velhos; do contrário, o vinho romperá os odres; e tanto se perde o vinho como os odres. Mas põe-se vinho novo em odres novos.
23 Ora, aconteceu atravessar Jesus, em dia de sábado, as searas, e os discípulos, ao passarem, colhiam espigas.
24 Advertiram-no os fariseus: Vê! Por que fazem o que não é lícito aos sábados?
25 Mas ele lhes respondeu: Nunca lestes o que fez Davi, quando se viu em necessidade e teve fome, ele e os seus companheiros?
26 Como entrou na Casa de Deus, no tempo do sumo sacerdote Abiatar, e comeu os pães da proposição, os quais não é lícito comer, senão aos sacerdotes, e deu também aos que estavam com ele?
27 E acrescentou: O sábado foi estabelecido por causa do homem, e não o homem por causa do sábado;
28 de sorte que o Filho do Homem é senhor também do sábado.
Marcos 3
1 De novo, entrou Jesus na sinagoga e estava ali um homem que tinha ressequida uma das mãos.
2 E estavam observando a Jesus para ver se o curaria em dia de sábado, a fim de o acusarem.
3 E disse Jesus ao homem da mão ressequida: Vem para o meio!
4 Então, lhes perguntou: É lícito nos sábados fazer o bem ou fazer o mal? Salvar a vida ou tirá-la? Mas eles ficaram em silêncio.
5 Olhando-os ao redor, indignado e condoído com a dureza do seu coração, disse ao homem: Estende a mão. Estendeu-a, e a mão lhe foi restaurada.
6 Retirando-se os fariseus, conspiravam logo com os herodianos, contra ele, em como lhe tirariam a vida.
7 Retirou-se Jesus com os seus discípulos para os lados do mar. Seguia-o da Galiléia uma grande multidão. Também da Judéia,
8 de Jerusalém, da Iduméia, dalém do Jordão e dos arredores de Tiro e de Sidom uma grande multidão, sabendo quantas coisas Jesus fazia, veio ter com ele.
9 Então, recomendou a seus discípulos que sempre lhe tivessem pronto um barquinho, por causa da multidão, a fim de não o comprimirem.
10 Pois curava a muitos, de modo que todos os que padeciam de qualquer enfermidade se arrojavam a ele para o tocar.
11 Também os espíritos imundos, quando o viam, prostravam-se diante dele e exclamavam: Tu és o Filho de Deus!
12 Mas Jesus lhes advertia severamente que o não expusessem à publicidade.
13 Depois, subiu ao monte e chamou os que ele mesmo quis, e vieram para junto dele.
14 Então, designou doze para estarem com ele e para os enviar a pregar
15 e a exercer a autoridade de expelir demônios.
16 Eis os doze que designou: Simão, a quem acrescentou o nome de Pedro;
17 Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, aos quais deu o nome de Boanerges, que quer dizer: filhos do trovão;
18 André, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu, Tadeu, Simão, o Zelote,
19 e Judas Iscariotes, que foi quem o traiu.
20 Então, ele foi para casa. Não obstante, a multidão afluiu de novo, de tal modo que nem podiam comer.
21 E, quando os parentes de Jesus ouviram isto, saíram para o prender; porque diziam: Está fora de si.
22 Os escribas, que haviam descido de Jerusalém, diziam: Ele está possesso de Belzebu. E: É pelo maioral dos demônios que expele os demônios.
23 Então, convocando-os Jesus, lhes disse, por meio de parábolas: Como pode Satanás expelir a Satanás?
24 Se um reino estiver dividido contra si mesmo, tal reino não pode subsistir;
25 se uma casa estiver dividida contra si mesma, tal casa não poderá subsistir.
26 Se, pois, Satanás se levantou contra si mesmo e está dividido, não pode subsistir, mas perece.
27 Ninguém pode entrar na casa do valente para roubar-lhe os bens, sem primeiro amarrá-lo; e só então lhe saqueará a casa.
28 Em verdade vos digo que tudo será perdoado aos filhos dos homens: os pecados e as blasfêmias que proferirem.
29 Mas aquele que blasfemar contra o Espírito Santo não tem perdão para sempre, visto que é réu de pecado eterno.
30 Isto, porque diziam: Está possesso de um espírito imundo.
31 Nisto, chegaram sua mãe e seus irmãos e, tendo ficado do lado de fora, mandaram chamá-lo.
32 Muita gente estava assentada ao redor dele e lhe disseram: Olha, tua mãe, teus irmãos e irmãs estão lá fora à tua procura.
33 Então, ele lhes respondeu, dizendo: Quem é minha mãe e meus irmãos?
34 E, correndo o olhar pelos que estavam assentados ao redor, disse: Eis minha mãe e meus irmãos.
35 Portanto, qualquer que fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, irmã e mãe.
Marcos 4
1 Voltou Jesus a ensinar à beira-mar. E reuniu-se numerosa multidão a ele, de modo que entrou num barco, onde se assentou, afastando-se da praia. E todo o povo estava à beira-mar, na praia.
2 Assim, lhes ensinava muitas coisas por parábolas, no decorrer do seu doutrinamento.
3 Ouvi: Eis que saiu o semeador a semear.
4 E, ao semear, uma parte caiu à beira do caminho, e vieram as aves e a comeram.
5 Outra caiu em solo rochoso, onde a terra era pouca, e logo nasceu, visto não ser profunda a terra.
6 Saindo, porém, o sol, a queimou; e, porque não tinha raiz, secou-se.
7 Outra parte caiu entre os espinhos; e os espinhos cresceram e a sufocaram, e não deu fruto.
8 Outra, enfim, caiu em boa terra e deu fruto, que vingou e cresceu, produzindo a trinta, a sessenta e a cem por um.
9 E acrescentou: Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.
10 Quando Jesus ficou só, os que estavam junto dele com os doze o interrogaram a respeito das parábolas.
11 Ele lhes respondeu: A vós outros vos é dado conhecer o mistério do reino de Deus; mas, aos de fora, tudo se ensina por meio de parábolas,
12 para que, vendo, vejam e não percebam; e, ouvindo, ouçam e não entendam; para que não venham a converter-se, e haja perdão para eles.
13 Então, lhes perguntou: Não entendeis esta parábola e como compreendereis todas as parábolas?
14 O semeador semeia a palavra.
15 São estes os da beira do caminho, onde a palavra é semeada; e, enquanto a ouvem, logo vem Satanás e tira a palavra semeada neles.
16 Semelhantemente, são estes os semeados em solo rochoso, os quais, ouvindo a palavra, logo a recebem com alegria.
17 Mas eles não têm raiz em si mesmos, sendo, antes, de pouca duração; em lhes chegando a angústia ou a perseguição por causa da palavra, logo se escandalizam.
18 Os outros, os semeados entre os espinhos, são os que ouvem a palavra,
19 mas os cuidados do mundo, a fascinação da riqueza e as demais ambições, concorrendo, sufocam a palavra, ficando ela infrutífera.
20 Os que foram semeados em boa terra são aqueles que ouvem a palavra e a recebem, frutificando a trinta, a sessenta e a cem por um.
21 Também lhes disse: Vem, porventura, a candeia para ser posta debaixo do alqueire ou da cama? Não vem, antes, para ser colocada no velador?
22 Pois nada está oculto, senão para ser manifesto; e nada se faz escondido, senão para ser revelado.
23 Se alguém tem ouvidos para ouvir, ouça.
24 Então, lhes disse: Atentai no que ouvis. Com a medida com que tiverdes medido vos medirão também, e ainda se vos acrescentará.
25 Pois ao que tem se lhe dará; e, ao que não tem, até o que tem lhe será tirado.
26 Disse ainda: O reino de Deus é assim como se um homem lançasse a semente à terra;
27 depois, dormisse e se levantasse, de noite e de dia, e a semente germinasse e crescesse, não sabendo ele como.
28 A terra por si mesma frutifica: primeiro a erva, depois, a espiga, e, por fim, o grão cheio na espiga.
29 E, quando o fruto já está maduro, logo se lhe mete a foice, porque é chegada a ceifa.
30 Disse mais: A que assemelharemos o reino de Deus? Ou com que parábola o apresentaremos?
31 É como um grão de mostarda, que, quando semeado, é a menor de todas as sementes sobre a terra;
32 mas, uma vez semeada, cresce e se torna maior do que todas as hortaliças e deita grandes ramos, a ponto de as aves do céu poderem aninhar-se à sua sombra.
33 E com muitas parábolas semelhantes lhes expunha a palavra, conforme o permitia a capacidade dos ouvintes.
34 E sem parábolas não lhes falava; tudo, porém, explicava em particular aos seus próprios discípulos.
35 Naquele dia, sendo já tarde, disse-lhes Jesus: Passemos para a outra margem.
36 E eles, despedindo a multidão, o levaram assim como estava, no barco; e outros barcos o seguiam.
37 Ora, levantou-se grande temporal de vento, e as ondas se arremessavam contra o barco, de modo que o mesmo já estava a encher-se de água.
38 E Jesus estava na popa, dormindo sobre o travesseiro; eles o despertaram e lhe disseram: Mestre, não te importa que pereçamos?
39 E ele, despertando, repreendeu o vento e disse ao mar: Acalma-te, emudece! O vento se aquietou, e fez-se grande bonança.
40 Então, lhes disse: Por que sois assim tímidos?! Como é que não tendes fé?
41 E eles, possuídos de grande temor, diziam uns aos outros: Quem é este que até o vento e o mar lhe obedecem?
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